sexta-feira, 31 de agosto de 2012

End up your holidays: Cut your hair

Acho que cheguei a rico. A prova? Venho de Portugal ontem, onde se corta o cabelo por uns 7 ou 8 Euros e vou aqui a uma cabeleireira perto de casa onde dou 19 Europeus para me ficarem com a trunfa que sobrar. Qual Porsche? Qual casa à beira-mar? Sou um burguês classe B+.

A dificuldade é pedir o corte que quero em Francês e responder às perguntas. Normalmente é fácil: "Corte para aí, meta um naco de máquina na nuca, acerte as patilhas". Aqui é mais duro e as perguntas são complicadas.

Cai-me um cabeleireiro todo fashion, o que não facilita as coisas. Nos barbeiros o tipo da tesoura tem bigode e fala de futebol. Nos cabeleireiros fashion, ele é gay e tenta puxar conversa mas os interesses divergem.

Por isso, instalo-me e - entre as interrupções - penso nas férias cinco estrelas que acabei de ter (e que ainda duram até daqui a duas horas).
Lembro-me da chegada ao Porto, de respirar aquele ar e ver o céu azul, a aterragem à segunda tentativa depois de umas voltas no ar. 
A partida para LX, onde o mano me foi buscar, para poisarmos na Zambujeira do Mar (sempre terra de recordações de outros tempos). A sopa do mar, a cervejinha, a praia, o quartinho para pernoitar antes de rumar mais a Sul.

- Vous voulez les pates comment?
- Hein?
- ...
- Pode ser por aqui, tire aí uma metade (meto o dedo a meio das orelhas para ajudar)

Depois Cabanas, o céu estreladíssimo, constelações cheias de poeira e estrelas a caírem. O acordar de manhã com direito a café na piscina, a nossa pequena esplanada de mesa e quatro cadeiras para beber a super bock e fumar o cigarrito. O barco a euro e meio para a areia e o mar. Os mergulhos de cabeça e o por-do-sol a boiar. O arroz de marisco com vinho branco fresco, a areia a invadir as toalhas, os sofás, os livros e os jornais, o Quasimodo e o seu "autocarro do amor", a festa do "meu querido mês de Agosto", Agoto com letra grande comme il faut, como grande parecem as férias no dia antes de começarem.

- Desculpe, queria maior aqui?
- Não, não, pode tirar.

A chegada do Bino ao aeroporto de Faro, a taska e o fondue, o Pampilhosa e a queque simpática e a sua cozinha de esmero, cerveja no início, sangria durante e aguardente depois.
O Vibe na Manta Rota e as vibes do comboiinho de Pedras D'el Rey, a Ilha de Tavira e os seus restaurantes, bares, a praia mais deserta que em outros anos, os guardiões da moral a aproximarem-se perigosamente dos guarda-sóis concessionados, nus como vieram ao mundo a assinalarem que a partir daqui podem tirar os calções, tomar um banho de água morna sem molhar os calções.

- Como é que costuma pentear o cabelo?
(olho para o espelho, encaro-o, sorrio cheio de auto-suficiência)
- Nunca penteio...

A partida para Lagos, a velha que nos oferece quarto e - suspeito - escuta às portas, entra pelo quarto dentro sem pejo (ansiosa por recordar a juventude?), dois macacos no Three Monkeys, o famoso funil de cerveja a contar pontos para as mais diversas nacionalidades, modalidade olímpica do Barlavento onde a falésia arrisca ruir e a água é mais fresquinha, mas a gente manda-se, afinal "que ñao me mata me fortalece".

- A seguir passamos por água e shampoo e voltamos
- D'accord

Estava tão longe, estávamos a regressar a Tavira e enquanto me passam a toalha no cabelo estou a limpar-me a uma toalha de praia, estamos a pensar aonde jantar, estamos a ir ao REF, inventando novos verbos e alimentando cirroses antigas; enquanto a tesoura desbasta mais um bocado da minha flora capilar, estou a pisar algas, calcar conchas, marcar a areia com os pés descalços; estamos a decidir se vamos embora hoje ou "só mais um diazito"; estamos a regressar a casa, a surfar na noite do Porto, noites tamanho XL, escutando Rádios, em Casas de Livros, quando o plano A não resulta arranja-se outro e antes de dormir ainda se dá um salto na Tendinha.

- Je paie par carte bleue
- Bien Sur (digita os três contos e oitocentos na máquina mágica)

e lembro-me de outro roubo, esquadra da PSP em dia de ressaca, cartões bancários em segundas vias (e ainda bem que não tens carta de condução e pena que não tenhas gasto as duas notas em mais um Gin, bem disse que ainda era cedo para ires embora).
O jantar do emigrante, com Sassu em versão digital (emigrante duas vezes), mas com novos shots (chamemos-lhe bi-shot), com ranchos folclóricos e seus novos aprendizes, massada de peixe apuradíssima (très très relevée).

- Merci, bonne journée
- Bon week-end

E estou no último dia de praia na Granja, na piscina em Vila do Conde, no Court de Ténis a fazer de conta que sou grande desportista. 
E finalmente estou a partir e juro que por baixo dos meus óculos de sol tinha os olhos marejados de lágrimas enquanto ainda via o céu do meu Porto. E por muito que se pense que 3 semanas e meia de férias é muito tempo, não dá para cansar, não dá para ver os amigos todos (e eles são tão poucos), mas vai-se fazendo por ter o dever cumprido e arquivar mais umas memórias que permitam alimentar a esperança durante mais um ano.

With Love,
Alien

(aguardo uma fotozita de lá de baixo para completar isto...)

4 comentários:

Hugo (o da esquadra) disse...

Dever de postagem (poetagem, sugere bem o corrector ortográfico) cumprido. Revivi ao ler, retomando as vacances... Há vantagens em nao poder pedir simplesmente o corte n. 3.

Amil Neila disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Taxi Driver disse...

Afinal eu também estive em terras do Sul com o gang! Vá, pergunta-me o que quiseres! :) Que post lindo, AJ. <3

bartleby disse...

Tá bem giro Touze. Tás a ficar um emigrante nostálgico.! :)