segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Desta vez toca-me

Desta vez vão-me ao pelo directamente. Ao vir trabalhar para França mantive os meus descontos para a Segurança Social em Portugal.
Hoje ouvi que o vosso primeiro-ministro comunicou que eu iria passar a descontar 18%, enquanto a empresa onde trabalho vai descontar menos 7 % sobre os meus rendimentos. Aliás, sem bem percebi as contas, eu meto mais 7 e a empresa mete menos um tanto inferior a sete, para haver ganho líquido da parte do estado. 500 milhões de euros, creio, mas se me puderem elucidar de quanto as companhias vão pagar, agradeço
Ora, eu não concordo que os accionistas aumentem os seus lucros à custa dos meus sete por cento. Mesmo que o estado (todos nós) beneficie um pouco. E isto vai levar-me a pensar numa alternativa. Sim, porque eu posso desde amanhã transferir as minhas quotizações para a Segurança Social Francesa.
E coloco-me realmente a questão: devo armar ao patriota e decidir que o país merece que eu transfira uma parcela mais do meu trabalho para outrem (uma parte para os riquíssimos accionistas da empresa e outra para todos nós)? Ou armar-me em internacionalista (e individualista) e pagar TUDO à Segurança Social do país que me acolhe? Se tomar esta última opção estarei a dar um sinal ao governo que não ajudei de forma alguma a eleger de que este não é o alvo preferencial da austeridade? Ou apenas de que não me preocupo senão comigo próprio?
Vejamos: se me perguntarem se eu prefiro passar 7 por cento do meu salário ao país que me acolhe (e que tem médicos mais baratos, hospitais mais acessíveis, medicamentos mais disponíveis (mais genéricos)) ou aos meus patrões que têm chateaux na campagne e contas bancárias recheadas, a minha escolha parece óbvia. Estarei então a fazer o mesmo que tanto critiquei aos patrões da Jerónimo Martins quando transferiram a sede da sua empresa para a Holanda? Sem dúvida! Mas eles são ricos e eu sou pobre.
Será presunção dizer que tenho andado a votar pelos outros desde que me conheço, minto se disser que sou um activista pela igualdade, mas também é certo que continuo a recusar-me peremptoriamente a entrar em qualquer esquema de aproveitamento dos outros (fuga aos impostos, pedidos de subsídio e que tais). E sinto que os meus impostos são bem aplicados quando se dedicam a diminuir o fosso entre classes e a corrigir injustiças sociais.
Por isso - e admitindo que cada vez me torno mais individualista - talvez vá pensar em mim e ver apenas qual a opção que mais me beneficia. Afinal, alguém anda a votar "neles". E não tenho sido eu...

3 comentários:

Anónimo disse...

se escolhesses o que era pior para ti eu dizia que eras masoquista...nao esta em causa o jeronimo mudar a sede fiscal. esta em causa ser a sociedade portuguesa que permite que ele enriqueça (até´ai tudo normal) e pague impostos na holanda. o teu caso parece-me diferente!abr. gnç

Amil Neila disse...

Pois, bem me disse o Filósofo (via chat):
« SS para França
lembra-te do final do take no prisioners dos Megadeth »

bartleby disse...

Se não olhares pela tua vida não vai ser o teu país a fazê-lo! Tou como o outro: SS para França. :)