sábado, 11 de abril de 2015

Uma rosa...

Ela era jovem. Jovem e bonita. Jovem, bonita e cheia de amigos, que fazia facilmente e cultivava com atenção. Não me surpreendeu que estivessem centenas de pessoas no seu funeral. Eu conhecia quatro ou cinco. Não conhecia absolutamente ninguém da família. Nem o pai, nem a mãe, nem a irmã ou a avô velhinha e prostrada de dor. Não conhecia as primas de quem ela me tinha falado em tempos e a quem não poderia reconhecer, naquele momento de dor, de reclusão e de preto por todo o lado, as diferenças irreconciliáveis.
A notícia tinha-me apanhado completamente desprevenido, distante, quase esquecido. As circunstâncias, sempre dramáticas nestas idades, eram dignas de noticiário e de movimentos nas embaixadas: raptada junto com uma amiga, durante uma viagem à América do Sul, tinha sido assassinada a sangue frio num momento nervoso de um dos três criminosos que, aliás, ainda eram procurados.
A minha dor era intensa. Era mais do que uma dor. Era como um cruzamento de fogo entre a infelicidade partilhada com o resto daquela multidão e outro sentimento mais antigo, que julgava desaparecido. As lágrimas rolavam-me silenciosas pelas faces, chorava como há anos não me sucedia. Mas sem nenhum som, sem aquele movimento incontrolável entre o peito e a garganta. Consegui aproximar-me do caixão aberto, para onde atirei uma rosa vermelha, a rosa do nosso amor nunca concretizado e agora irremediavelmente perdido...

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