Enquanto desço a rua, olho nos olhos das pessoas que se cruzam comigo, algures neste fim de tarde soalheiro. Na lavandaria um rapaz espera enquanto lê um livro; outro está sentado de olhar fixo na grande máquina de lavar.
Na pequena esplanada da tabacaria (duas mesinhas) vejo a empregada do animado Café Au Metro. Não pára de puxar a baforada do cigarro para me acenar brevemente com a cabeça. Do lado direito, olho o belo bistrot Les Frangines, com os seus grandes pratos de salada. Ao balcão, vislumbro o preto estiloso que toma conta do bar. Alto, cabelo afro a meio gás e cara de ganzado em controlado. Mais á frente a papelaria. Entro para admirar o mosaico de revistas e jornais, edições especiais, ofertas de livros e cêdês, escuto o jazz que preenche o espaço, dou o bonjour à barba atràs da caixa. Saio e dou de caras com o estanderete do sem-abrigo que tem poiso no grande passeio. Tem cara de avozinho muito bem alimentado, o fato de treino não sujo, a pele um pouco cirrótica. Dou-lhe o bonjour também.
Começo a ouvir o som dos metais, o trombone, o trompete, em fundo uma faixa amplificada. Os romenos (sérvios? bósnios?) dão uma animação especial à rua, vão parando de soprar para estender o chapéu. Um cigarro, uma moeda, os dentes falhos, algum de ouro, as roupas esfarrapados no apelo de um cheque refeição em troca da alegria estival de um quarteirão musicado.
Volto atrás e meto à esquerda (sem dar moeda) na Rue du Chateau, passo a loja dos puzzles; não, páro na loja dos puzzles feitos à mão, peças cortadas de uma forma original; são caros; junto á janela está um mapa de França com os departamentos bem divididos, sem pensar ponho o dedo mais ou menos ao centro da Île de France, vejo o risco do Sena a encaracolar, alcanço o ponto máximo da parábola que divide as duas margens de Paris, traço-lhe uma tangente (a derivada?) e começo a descer uma recta perpendicular imaginária. Desço devagarinho, fantasio com o meu dedo no vidro da montra. Páro e sei que estou com o dedo no ponto em que me encontro. Deixo e sigo em frente, enconto a pequena praceta com três bancos de jardim e um de créditos, contas e juros, operações complicadas que nunca me apetece entender; do outro lado as letras Arte Nova do restaurante Chateu de l’Ouest; avanço, deixo nas costas a Rue de L’Ouest com o seu bar de jazz (utopie), a loja de revistas antigas, bêdês, discos de música ligeira e de capa foleira, pó e mofo; deixo o restaurante libanês e sigo à Place de La Catalogne, grande, airosa, de construção recente, trânsito intenso e sei bem onde contorná-la, atrasando os ponteiros do relógio até encontrar à minha frente a Torre Eiffel gigante, já meia iluminada (ou toda iluminada?) indicando a entrada da Boulevard Pasteur. É por aí que entro depois de contornar a rotunda, a Gare Montparnasse às três horas, os tgv’s chegando da Aquitânia, da Bretanha, à minha esquerda. [Continua...]
Na pequena esplanada da tabacaria (duas mesinhas) vejo a empregada do animado Café Au Metro. Não pára de puxar a baforada do cigarro para me acenar brevemente com a cabeça. Do lado direito, olho o belo bistrot Les Frangines, com os seus grandes pratos de salada. Ao balcão, vislumbro o preto estiloso que toma conta do bar. Alto, cabelo afro a meio gás e cara de ganzado em controlado. Mais á frente a papelaria. Entro para admirar o mosaico de revistas e jornais, edições especiais, ofertas de livros e cêdês, escuto o jazz que preenche o espaço, dou o bonjour à barba atràs da caixa. Saio e dou de caras com o estanderete do sem-abrigo que tem poiso no grande passeio. Tem cara de avozinho muito bem alimentado, o fato de treino não sujo, a pele um pouco cirrótica. Dou-lhe o bonjour também.
Começo a ouvir o som dos metais, o trombone, o trompete, em fundo uma faixa amplificada. Os romenos (sérvios? bósnios?) dão uma animação especial à rua, vão parando de soprar para estender o chapéu. Um cigarro, uma moeda, os dentes falhos, algum de ouro, as roupas esfarrapados no apelo de um cheque refeição em troca da alegria estival de um quarteirão musicado.
Volto atrás e meto à esquerda (sem dar moeda) na Rue du Chateau, passo a loja dos puzzles; não, páro na loja dos puzzles feitos à mão, peças cortadas de uma forma original; são caros; junto á janela está um mapa de França com os departamentos bem divididos, sem pensar ponho o dedo mais ou menos ao centro da Île de France, vejo o risco do Sena a encaracolar, alcanço o ponto máximo da parábola que divide as duas margens de Paris, traço-lhe uma tangente (a derivada?) e começo a descer uma recta perpendicular imaginária. Desço devagarinho, fantasio com o meu dedo no vidro da montra. Páro e sei que estou com o dedo no ponto em que me encontro. Deixo e sigo em frente, enconto a pequena praceta com três bancos de jardim e um de créditos, contas e juros, operações complicadas que nunca me apetece entender; do outro lado as letras Arte Nova do restaurante Chateu de l’Ouest; avanço, deixo nas costas a Rue de L’Ouest com o seu bar de jazz (utopie), a loja de revistas antigas, bêdês, discos de música ligeira e de capa foleira, pó e mofo; deixo o restaurante libanês e sigo à Place de La Catalogne, grande, airosa, de construção recente, trânsito intenso e sei bem onde contorná-la, atrasando os ponteiros do relógio até encontrar à minha frente a Torre Eiffel gigante, já meia iluminada (ou toda iluminada?) indicando a entrada da Boulevard Pasteur. É por aí que entro depois de contornar a rotunda, a Gare Montparnasse às três horas, os tgv’s chegando da Aquitânia, da Bretanha, à minha esquerda. [Continua...]
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