quinta-feira, 14 de maio de 2009

Trilogia (não cronológica nem lógica) do MOSH 2

O Faustino

Há uns meses, ao ler não sei que livro não faço ideia de que autor, pus-me mentalmente a fazer uma lista dos atributos que teria um amigo meu. É verdade que as pessoas de quem gosto têm algumas características em comum. Não as vou citar, porque vistas de alguma perspectiva podem ser defeitos e estou à vontade para o dizer porque no que lhes concerne eu sou pior. A verdade é que, nas circunstâncias mais diversas, já conheci pessoas que se tornaram extremamente importantes para mim. Claro que isto acontece a toda a gente, mas os outros, ..., bem, quero que eles se fodam (excuse my french).
Numa dada altura decidi que tinha conhecido já o meu último amigo. Em terra estranha (que estranhei), decidido ao desprezo e à indiferença, descobri um dos maiores. Num barbeiro falei com um que redescobri em noite de moca e de que não me separo até hoje. Um andou comigo no infantário, mas foi preciso termos barba para nos agarrarmos com força um ao outro. Outro foi o nosso guru ;-) desde que a minha namorada da adolescência mo apresentou; a namorada foi, mas ele ficou...
Essa namorada foi pródiga, também foi ela que me pôs em contacto com um certo aprendiz de filósofo. Ainda hoje gostamos de filosofar juntos, quantas das vezes entaramelados e numa linguagem que, longe de ser erudita, só nós acabamos por entender.
Outro simplesmente nasceu, esteve SEMPRE lá, aqui, ali, onde é preciso, em suma...

O Faustino entrou - tal extra-terrestre - no Colégio, de castigo ou por outra aleatória razão, numa turma de terroristas, onde passámos o nono ano das nossas vidas. Nem por um momento ele deixou de dizer que detestava a escola, queria voltar para o seu grupo de amigos na sua cidade à beira-mar, que ali era só padres e betos e coninhas e popeiros e parolos.
Senti-me feliz e orgulhoso quando me disse, sentido, no fim do ano, que até continuaria a estudar lá, mas... ia chumbar... e não valia a pena... porque íamos deixar de andar na mesma turma.
A verdade é que encaixámos um no outro, hoje raramente o vejo (mesmo raramente) e raras vezes o apanho no messenger e voltámos imediatamente a mandar as bocas dos 15 anos como se nada se tivesse passado em mais de outros quinze. Foi ele que me introduziu (calma, Faustino, calma, eu não vou contar isto...) ao METAL. Tentou arrancar-me às garras da música maníaco-depressiva, mas não teve todo o sucesso. No entanto, emprestou-me uma K7 do Piece Of Mind dos Maiden, cantáva-nos um refrão bem fixe que rezava "Take a look to the sky just before you die, it's the last time you will will will" e depois grisávamo-nos quando fazia o break de bateria com a boca. Mal imaginava eu (ainda menos ele) que dois anos depois eu iria, puto gadelhudo e fanático ouvir "For whom the bell tolls" no meio de um mosh em Alvalade. Ainda menos que... Bem, adiante... a primeira vez que ouvi a palavra mosh foi ele.
Música a bombar, sala cheia, ganha-se lanço e ombro com ombro, peito com peito, corpo com corpo, com violência, não sem amor, o estouro liberta uma energia poderosa. Quem já lá andou sabe do que falo, quem já lá voltou grandinho e depois de uma pausa ainda o sabe melhor, quem não sabe, não sabe e tem a opinião que quiser, que elas são como os cus. Mas deixemos isso para a parte 3, se lá chegarmos.
Nós chegamos a montar uma base de cama com colchão ao alto, encostada à parede, para servir de saco de porrada. Foi no dia em que o Daniel me queria dar a t-shirt dele, depois de uma das nossas bagaçadas históricas.
Uma vez, ao som do Apetite, metemos luvas de boxe, almofadas debaixo da camisola, e até capacete e demos porrada de criar bicho um no outro.
Sempre sem magoar, que a única mágoa é não ter hoje quinze anos.



Obrigado, meu filho da puta.

5 comentários:

DomingonoMundo disse...

Grande mosh este... A verdade é que, no que toca ao mosh, e pedindo desculpa ao verdadeiro sujeito desta posta, todos tivemos um Faustino. Faz parte da experiência de partilha que é sempre o Rock - particularmente o metal. Talvez seja também por isto que hoje, em tempos de menos partilha, a música seja menos genuína...

Taxi Driver disse...

O Filosofe, tu é que nao conheces as partilhas que se fazem noutras pistas de dança! ;)

Quanto ao Mosh aqui postado, em grande!

everything in its right place disse...

eu não estive lá sempre.

quando há hipótese de partir um dente ou torcer um tornozelo no mosh, eu, um conas, chego-me para trás e fico a ver o concerto enquanto os outros tentam manter a sua integridade física...

alta posta, oh Towze!

pigs flu disse...

aí vai ela!!!

foda-se nunca mais saio desta terra caralho...
fuuuu

bartleby disse...

Grande posta... um verdadeiro another world para mim mas mesmo assim bela homenagem ao senhor Faustino que acho que não conheço! Merci pour la reference... o blog não abrirá tão cedo, creio! Desolé!