terça-feira, 8 de março de 2011

Homens da Luta

Esta semana, os Homens da Luta ganharam o Festival da Canção. Parece que tinham perdido pelos votos do júri e ganharam com os votos do Povo. Gosto do Gel e do Falâncio. Não se deixaram abalar pelos assobios dos familiares dos outros grupos ressabiados por terem perdido pelo voto do Povo. O mesmo povo que estará na manifestação da Geração à Rasca. A dos Deolinda, parece.

Parte do mesmo povo votou no Salazar para Maior Português de Sempre. Uma vergonha triste, compreensível (para alguns) à luz de crises e desencantos, com partidos, regimes e «modelos».

Dos que vão estar na manifestação da Geração à Rasca, vamos poder ver muitos que «não acreditam nos políticos»; grande parte não sabe em quem vai votar, outras partes vota(ra)m em quantos partidos existem. Vamos ver laranjinhas anti-sócrates, pêésses desiludidos (e desempregados), pêcês contestatários, direitinhas conservadores, bloquistas, centrão e extremos ... vamos ver de tudo.

Em épocas de crise, quando não há inimigo real, de preferência exterior (colónias, colonizadores, invasor, fascistas, comunistas), nem mesmo uma catástrofe natural, uma seca, as pessoas viram-se para onde podem. Se não houver uma cultura política, se não se perceber a diferença entre ideias diversas e políticas distintas, quando se pensa que «são todos iguais», o risco aumenta.

Hoje saiu mais uma sondagem choque em França. Foi a segunda sondagem num espaço de duas semanas a dar o primeiro lugar na primeira volta das presidenciais a Marine Le Pen, da Frente Nacional. Na sondagem anterior (hipótese Aubry como candidata do Partido Socialista), passaria Le Pen (a filha) e Sarkozy (esse). Na de hoje havia duas variantes. Na hipótese Hollande, passariam os mesmos dois à segunda volta (engolir sapos? ou desta vez deixariam andar?). Na hipótese Strauss-Kahn, aconteceria "o 21 de Abril ao contrário" escolher-se-ia para Presidente entre a Le Pen e o actual presidente do FMI ( e este ganharia inegavelmente).
Assustador, de qualquer forma. Ameaçador, mesmo. A direita no poder tem ajudado a este clima. Acredito que lhe tenham saído pela culatra as tentativas de conquistar os votos do eleitorado radical de direita. De facto, Sarkozy quase instalou um crime de guerra contra os imigrantes, os muçulmanos, os «voyous». Quando cria um Ministério da Identidade Nacional, refaz a lei da Burkha ou tenta agora tocar numa apropriada lei da Laicidade existente desde 1905 e que pode fazer cumprir a lei eficientemente no contexto actual (diferente do de 1905 em que conviviam apenas as religiões Católica, Protestante e Judaica), está de facto a fomentar discussões mediáticas em que os dirigentes da Frente Nacional se sentem perfeitamente à vontade. Quando cria leis relâmpago após crimes mediatizados (leis à medida do espaço e tempo mediático) está precisamente a deixar espaço àqueles que melhor manejam a linguagem do medo e do argumento fácil e pejado de «casos concretos».

A manifestação dos Deolinda não me excita... Em todo o caso, a ela me juntarei de bom grado e sem vergonha. Talvez até aprenda alguma coisa. Talvez até possa constituir um exemplar de um desses novos emigrantes de que falam, dos que abandonam o país e dificilmente encontram oportunidades para voltar. Mas espero sinceramente que não seja um prenúncio do abandono apolítico e revoltado das discussões políticas com tendência extremista. Quero crer que seja entendida pelos políticos (e pelos jornalistas) como um pedido para que se discutam problemas e hipóteses de solução; para que se demitam prevaricadores e se condenem corruptos.

Na França, a pulverização à esquerda não é a única explicação para que não haja um candidato socialista com força para afrontar a família Le Pen. Verdes, Radicais de Esquerda, Anti-capitalistas, Partido de Esquerda, Frentistas, encontram o Centro (um MoDem a 8 %), mais sarkozy, mais Villepin, mais a própria FN. Talvez a desconfiança no processo que vai determinar a escolha do candidato PS o seja mais.
Mas há algo mais profundo, algo que gostaria de não ver chegar (outra vez) ao nosso país.

3 comentários:

DomingonoMundo disse...

...e, ainda por cima, é reduzido o leque de países que têm papa!

Amil Neila disse...

Habiamo Papi Alemani...

Bartleby disse...

"entre a Le Pen e o actual presidente do FMI ( e este ganharia inegavelmente)." Onde isso já vai... onde isso já vai!!! :)))