sábado, 30 de janeiro de 2010

estou não estou

estou em frente à mesa cheia de copos de garrafinhas o cinzeiro à volta o barulho as conversas a risota empurrões
estou a ouvir a voz do stuart stapples quase a chorar
ele
estou fora isolado estou a voar a planar a parar quase quase a
eu
estou a fugir
fujo
estou no autocarro de phones nos ouvidos
estou a chegar a cantar a dar pisca a ultrapassar estou a arrumar a levantar a abrir a porta para me pôr a andar
estou a ver o mar o sol a pousar
estou com a cabeça encostada à parede a vomitar
a meter verbos na primeira conjugação sem ser p'ra rimar
estou a beber a beber a beber a beber a fumar
tenho a cabeça a andar à roda quase a cair a desmaiar
subo a avenida nevski a suar a bater nos ombros de um de outro de outra a equilibrar-me
estou a subir a nevski
outra vez
subo subo
a cair a tentar ir outra vez
estou sentado encostado à parede está frio
tenho frio
conversamos fumamos conversamos rimos
conversamos
conversamos
falamos
estou a ver o sol outra vez o céu azul e o sol outra vez
estou na estação
(de comboios)
estou na estação a ler a duras à espera dela
tenho dezasseis dezassete dezoito dezanove vinte
tenho vinte-e-uma toneladas no corpo
estou naquele cubículo ondo posso pousar uma mão em cada parede e a cabeça em frente levanto-a e respiro
tenho gente à espera
(esperem)
ninguém me espera
tenho os faróis do carro à minha frente apontados à minha cara tenho uma doc martin's na lama tenho as calças de ganga sujas tenho dores de garganta tenho que ir já vou já me vim a voz da rosselini desconcentrou-me desculpa muda o disco deixa estar o disco ouço outra vez
é novembro chove em novembro passo dez vinte trinta anos em novembro e neva em abril
na praia de noite
abrem a porta
sem bater
já não é dezembro já não é de tarde
não estou

3 comentários:

Taxi Driver disse...

Flash-Back?

privada disse...

Uah, está muito bom. E vou ler outra vez, parece mesmo uma viagem num beco sem saida, zuuuuuuuum

Amil Neila disse...

Obrigado, Privada