domingo, 30 de agosto de 2009

Rock en Seine 2009 - Paris - 29 de Agosto (1)

Questões para um festival

Em plena deprê de regresso ao trabalho, com um dia (horrível) já no bucho, fomos para St-Cloud e - juro - diverti-me em grande no meu único dia festivaleiro do Verão de 2009. A talhe de foice, algumas impressões recolhidas do meu único festival fora de portas:

O problema do Ambiente
  • O ambiente não é problema num festival. Gente pacífica, bonita, predominantemente jovem, à excepção de alguns avós (uns mais outros menos freaks, com ou sem o ácido dos 60 a tilintar nos neurónios) e alguns netos (que até tiveram direito a um mini rock en seine com ateliers de iniciação a instrumentos musicais, visitas, pintura em murais, e um bar rock de cocktails explosivos... de frutas, além de um museu rock)
  • Mas e o outro Ambiente? With capital A? O de todos? Para comprar uma cerveja, a primeira, era necessário entrar com mais 1 € por um copo de rijo plástico (meio litro, porque não?). Esse copo, entregue e substituído a cada "reabastecimento" por um lavado. seria trocado à saída pelo euro inicial. Resultado: nem um plástico no chão!
  • Os sacos do lixo também abundavam. Por isso, apesar de algum descuidado (ler porco) que deitasse um papel ao chão (e muita papelada nos deram nessa tarde), o ambiente era tão limpo como qualquer rua do centro de Paris.
  • A água: não, não é a bebida de eleição para um festivaleiro mas em casos de extrema necessidade pode beber-se uma gotinha. Num espaço bem cuidado, havia panfletos informativos sobre as vantagens do consumo de água da torneira (menos embalagem, menos transporte, qualidade assegurada, gosto regularmente controlado, preço mais baixo). Para além dos folhetos e cartazes, um conjunto de bancas com torneiras onde podíamos abastecer os famosos copos de plástico ou qualquer garrafa de água à borla. Pensei no preço que nos cobram por 20 cl do precioso líquido se H2O Luso ou Vitalis (consoante o patrocinador) na maioria dos festivais. Infelizmente, este vosso escriba, por razões filosófico-religiosas, não provou.
  • As casas de banho secas: todos sabemos que mijar neste tipo de evento é uma odisseia. Estas casas de banho passaram a prova da eficiência e o teste do nojentinho, mesmo com alguma fila de espera no sector feminino. Bidões de plástico com aparas de canas de madeira ou palha que seriam posteriormente utilizados como fertilizante. As mais limpas que encontrei neste tipo de evento (e mesmo comparado com eventos bem menos frequentados e com muito mais possibilidades, como um que visitei recentemente no autódromo de Portimão). E não consta que os franciús caguem menos que nós. Papel higiénico. Lavatórios com torneira. O blog aqui ao lado tem uma pequena descrição e está mais bem documentado.
  • O transporte: fui de metro e a pé. Mais ecológico só a correr, mas talvez a pegada ecológica deixada pelo sovacame deitasse tudo a perder...
  • Nota menos para a quantidade de papéis no chão no circuito de acesso, antes da apresentação do bilhete. Tanta gente a distribuir papelada, revistas, cartazes e poucos ou nenhum caixote do lixo tinham que dar nisto. Mas eu começo a conhecer estes tipos: aposto que segunda-feira está tudo recolhido e limpo. Se não houver greve.
O problema da Saúde
  • Tampões para os ouvidos eram distribuídos à entrada e encontravam-se disponíveis em recipientes no interior do recinto. Importante para os mais sensíveis ao massacre decibélico da frente do auditório ou quando tocam bandas tipo Off Spring. A retirar para deixar entrar todo o som Faith No More em estado bruto.
  • Num bar (sim, um bar com balcões e esplanda e mesas e cadeiras) podiam fazer-se testes de alcoolemia. Também passei de raspão por uma brigada que procurava o tipo que leva o carro e não bebe. Mas não falei com eles. Não fui de carro. Bebi.
  • Nota menos para a distribuição de preservativos. Só nos entregaram um. De acordo, até podem dizer-me que não se vai para um festival para foder, mas... Com as tendas, sem máquinas à venda e tanta hormona em ebulição com o calor que tem estado...
O problema do Comércio
  • Um festival é dinheiro, negócio, diversão, férias com subsídio ou mesada extra, patrocínios. A música vem lá atrás e dá o mote mas sorte dos verdadeiros fãs que tiveram a experiência de ver as suas bandas de eleição em coincertos dedicados em que até a banda de suporte era uma boa surpresa escolhida pelas "nossas" bandas.
  • Hoje qua há de comum entre a música, a comida (francêsa, africana, asiática), a cultura, e a contra-cultura, os grupos de defesa disto e daquilo, as companhias de telemóveis e os jogos vídeo? É a economia, estúpido. E nem vale a pena discutir mais: "comida do mundo", sumos sem alcoól, tenda para jogar Guitar Hero, Levi's Motel, Espaço Société Généralle (Espace So Zen). De qualquer forma, eu lá trouxe a t-shirt, vício antigo e menos uma compra na Zara ou outra porcaria qualquer. Também é um facto que lá estava a fundação Abbé Pierre a promover a habitação aos desfavorecidos.
O problema das Drogas
  • É claro que vi malta a fazer e a fumar as suas ganzas mas a um nível infinitamente menor que em qualquer festival tuga. Será por isso que as pessoas me pareceram mais activas e alegres?
  • No entanto, devo dizer que, à saída, sniffamos tanto pó levantado pela manada em retirada que passámos a noite completamente entupidos. É como se fosse uma droga mas só com os indesejáveis efeitos secundários.
Bem, amanhã tenho que ir fazer aquilo para que aqui estou: trabalhar. Já estou com calafrios. Há uma parte que não muda nas férias desde a escola até hoje: a seca do regresso. Mas há uma parte no regresso de agora que é diferente: é que é muuuuuuito pior!!

3 comentários:

everything in its right place disse...

só uma:
no único festival a que fui este ano fui comprar uma água.
o gajo pede-me 2,5 € (dois euros e meio, vulgo quinhentos paus) por uma garrafa de água. senti-me pouco insultado.

senti-me insultadíssimo quando ele me disse que não me podia dar a tampa da garrafa. aí passei-me:

-desculpa, mas este recinto está cheio de calhaus (que estava mesmo) e tu vens-me dizer que uma garrafa de água é perigosa? estás a gozar comigo?

o gajo disfarçou a dar-me a tampa. eu nem sei é como é que não me saltou a tampa...

está visto que esse tinha alguma categoria...

quanto aos distribuidores de metros, destaks e afins: deviam pagar parte dos salários dos varredores de ruas!

everything in its right place disse...

o que é um "um mini rock en seine"?

um concerto de Florineida e Hanna Montalla??

:P

gnç disse...

então??? vamos lá a postar essa moshada sem fé!