Segunda-feira, 22h20. Já acabei de jantar, dei uma pequena volta ao quarteirão, acabei de ler um livrinho. Já escolhi o fato para amanhã e adiantei o nó da gravata. Assim vai mais rápido amanhã, entre o toque do despertador e o café que não me conseguirá despertar.
Que longe vai esse Verão de 1992. E quão próxima dele está ainda a minha cabeça. E o meu coração, o fígado, os intestinos, os pulmões e o baço, os rins, todo o meu corpo e vontade.
Hoje de manhã peguei na mala com o computador, saí de casa, cortei na Rue Lebouis até à Rue de l'Ouest que subi até atravessar a Av. do Maine para meter na Rue Gaîté directo até ao metro Edgar Quinet.
Há 16 anos, teria saído com a mochila, atravessado a Nacional 1 para esperar pela camioneta na paragem. Teria talvez deixado passar duas camionetas porque era na Caima que vinha a Ana Maria, loirinha por quem estava apaixonado até às lágrimas sem nunca com ela ter trocado uma só palavra. A camioneta levar-me-ia até ao Colégio dos Carvalhos, dando tempo para um café no Cruz antes de ir para a aula.
Hoje tive uma reunião com um administrador. A minha parte no projecto tem luz verde, mas quase preferia ter sido travado. Não estou muito para aí virado e ainda não sei muito bem como é que vou pegar na fera. Também ainda não sei muito bem como é que vou pegar na DRH com quem partilho a metodologia do projecto, mas às vezes dá-me vontade que seja pelos cabelos.
Há 16 anos teria tido uma chamada ao quadro, ou um teste, ou um menos na caderneta. Mas de certeza absoluta que respondi bem, tive boa nota. Naquele tempo, sabia sempre responder bem. E acho que era mais respondão. Mas não sei.
Hoje não almocei na cantina. Fechou para obras. Mas também não almocei no refeitório do Colégio, nem fui para o Iber a seguir, olhar para a Ana Maria. Não deu o video-clip do November Rain em nenhum lado, nem fui passear com o Kimoto, o Cid e o Filipe para a urbanização, de lenço na cabeça e guedelhas ao vento. Acho parolo andar de lenço e já não tenho guedelhas. O Kimoto está longe. O Cid também. O Filipe ainda mais.
Tenho saudades tuas, Filipe. Tenho saudades de ver os teus dedos grossos no braço fininho da tua guitarra de quinze contos, enquanto fazíamos a versão Guns do Knockin' on the Heavens Door no salão vazio de minha casa, nível decibélico de pista de aeroporto internacional.
Hoje (há 16 anos) terei ouvido algo do Ride the Lightning, talvez começasse a eito pelo Fight Fire With Fire. Na verdade, estou a ouvi-lo agora e, se não ter ido a Alvalade em '92 foi desculpa para ter ido ver James Hetfield e companhia em noventa-e-três então, ainda agora agradeço a aposta ganha. Conheço quem tenha ido aos dois e melhor do que eu o dirá. Mas gostava de ter visto o Axl a armar em virgem ofendida. Gostava de ter olhado para aquela cabeleira de caniche de luxo em cara de junkie que tinha (e tem) Saul Hudson, Mr. Slash. Gostava de ter visto o Matt Sorum que já tinha saído dos Cult nessa altura. Gostava de saber o que é que tocaram, sabendo que têm tantos hinos para tocar, sempre. Hinos que hoje ouço com grande gozo hard-rocker, depois de os ter abandonado e de me ter reconciliado.
Tocaram o Estranged? O Coma? A versão do Mama Kin dos Aerosmith? O Live and Let Die? O November Rain? Reckless Life? One in a Million? O Double Talkin' Jive dá para tocar ao vivo com aquele solo espanholado de guitarra acústica? O Welcome to the Jungle? E o My Michelle? Rocket Queen? Terão dançado com o Mr. Brownstone? Eu não suporto o Sweet Child O'Mine, mas terá o Slash distorcido o tema d'"O Padrinho " para abrir essa balada repugnante? E o Back Off Bitch, a minha música "pós-desgosto-púbere-amoroso"? Terá Duff, um dos mais punks baixistas de rockenroll de sempre cantado o "So Fine"? E essa orelhuda mas potente Don't Cry? Alguém me saberá dizer se foi cantada com a letra original ou na versão "alt. lyrics"?
E será tudo isto apenas uma colecção de detalhes? Que tal falar do luxo das duas bandas de suporte que lá estiveram? Soundgarden no auge do grunge (triste tipologia esta) tocavam a abrir e era banda que gostaria de ver e, acima de tudo, dos próprios Guns, a banda que acabaria por perder ainda outra vez (lá iremos) e para quem TENHO BILHO, 16 ANOS DEPOIS: FAITH NO MORE.
O meu amigo José, antes de ser Barleby, antes mesmo de ser Guru, também lá rumou, só para os ver.
Ele e a (agora minha compatriota) Fabi (há c'anos!) encontraram nessa noite, no bairro alto, uma carteira com cinco contos de rei em altura de aflição.
Não queres abrir o tasco para contar essa, Zé? Não queres, ao menos, mandar-me um correio, que te empresto o tasco?
Conta-me coisas boas desse concerto, Huguito, façam-me ter mesmo pena de lá não ter ido, dêem-me vontade de mamar Jack Daniels até me correrem as lágrimas pela cara abaixo, por não ter feito naquela noite o que só poderia ter feito naquela noite.
Deixem-me voltar atrás para fazer um pirete aos profes, para roubar uma caixa registadora de um super-mercado, fugir de casa dos papás, apanhar boleia de um grunho a cheirar mal, comer bolos e rebuçados, dormir na relva até sentir o orvalho nestes ossos, beber cerveja azeda de copo de plástico, suar como não suava nessa altura, virgem ansioso e deseperado que só queria metê-lo na primeira que aparecesse, tivesse ela quinze ou cinquenta e cinco.
Deixem-me voltar atràs para esperar mais um ano, acalmar as hormonas e as frustrações, para poder ir outra vez ver Metallica e dizer ainda bem que não fui o ano passado.
Ou sou só eu a convencer-me disto?
Próxima edição: Faith No More - Pavilhão do Bessa - Porto 30 Junho 1992 (de certeza? Gonça, ajudas-me?)
Que longe vai esse Verão de 1992. E quão próxima dele está ainda a minha cabeça. E o meu coração, o fígado, os intestinos, os pulmões e o baço, os rins, todo o meu corpo e vontade.
Hoje de manhã peguei na mala com o computador, saí de casa, cortei na Rue Lebouis até à Rue de l'Ouest que subi até atravessar a Av. do Maine para meter na Rue Gaîté directo até ao metro Edgar Quinet.
Há 16 anos, teria saído com a mochila, atravessado a Nacional 1 para esperar pela camioneta na paragem. Teria talvez deixado passar duas camionetas porque era na Caima que vinha a Ana Maria, loirinha por quem estava apaixonado até às lágrimas sem nunca com ela ter trocado uma só palavra. A camioneta levar-me-ia até ao Colégio dos Carvalhos, dando tempo para um café no Cruz antes de ir para a aula.
Hoje tive uma reunião com um administrador. A minha parte no projecto tem luz verde, mas quase preferia ter sido travado. Não estou muito para aí virado e ainda não sei muito bem como é que vou pegar na fera. Também ainda não sei muito bem como é que vou pegar na DRH com quem partilho a metodologia do projecto, mas às vezes dá-me vontade que seja pelos cabelos.
Há 16 anos teria tido uma chamada ao quadro, ou um teste, ou um menos na caderneta. Mas de certeza absoluta que respondi bem, tive boa nota. Naquele tempo, sabia sempre responder bem. E acho que era mais respondão. Mas não sei.
Hoje não almocei na cantina. Fechou para obras. Mas também não almocei no refeitório do Colégio, nem fui para o Iber a seguir, olhar para a Ana Maria. Não deu o video-clip do November Rain em nenhum lado, nem fui passear com o Kimoto, o Cid e o Filipe para a urbanização, de lenço na cabeça e guedelhas ao vento. Acho parolo andar de lenço e já não tenho guedelhas. O Kimoto está longe. O Cid também. O Filipe ainda mais.
Tenho saudades tuas, Filipe. Tenho saudades de ver os teus dedos grossos no braço fininho da tua guitarra de quinze contos, enquanto fazíamos a versão Guns do Knockin' on the Heavens Door no salão vazio de minha casa, nível decibélico de pista de aeroporto internacional.
Hoje (há 16 anos) terei ouvido algo do Ride the Lightning, talvez começasse a eito pelo Fight Fire With Fire. Na verdade, estou a ouvi-lo agora e, se não ter ido a Alvalade em '92 foi desculpa para ter ido ver James Hetfield e companhia em noventa-e-três então, ainda agora agradeço a aposta ganha. Conheço quem tenha ido aos dois e melhor do que eu o dirá. Mas gostava de ter visto o Axl a armar em virgem ofendida. Gostava de ter olhado para aquela cabeleira de caniche de luxo em cara de junkie que tinha (e tem) Saul Hudson, Mr. Slash. Gostava de ter visto o Matt Sorum que já tinha saído dos Cult nessa altura. Gostava de saber o que é que tocaram, sabendo que têm tantos hinos para tocar, sempre. Hinos que hoje ouço com grande gozo hard-rocker, depois de os ter abandonado e de me ter reconciliado.
Tocaram o Estranged? O Coma? A versão do Mama Kin dos Aerosmith? O Live and Let Die? O November Rain? Reckless Life? One in a Million? O Double Talkin' Jive dá para tocar ao vivo com aquele solo espanholado de guitarra acústica? O Welcome to the Jungle? E o My Michelle? Rocket Queen? Terão dançado com o Mr. Brownstone? Eu não suporto o Sweet Child O'Mine, mas terá o Slash distorcido o tema d'"O Padrinho " para abrir essa balada repugnante? E o Back Off Bitch, a minha música "pós-desgosto-púbere-amoroso"? Terá Duff, um dos mais punks baixistas de rockenroll de sempre cantado o "So Fine"? E essa orelhuda mas potente Don't Cry? Alguém me saberá dizer se foi cantada com a letra original ou na versão "alt. lyrics"?
E será tudo isto apenas uma colecção de detalhes? Que tal falar do luxo das duas bandas de suporte que lá estiveram? Soundgarden no auge do grunge (triste tipologia esta) tocavam a abrir e era banda que gostaria de ver e, acima de tudo, dos próprios Guns, a banda que acabaria por perder ainda outra vez (lá iremos) e para quem TENHO BILHO, 16 ANOS DEPOIS: FAITH NO MORE.
O meu amigo José, antes de ser Barleby, antes mesmo de ser Guru, também lá rumou, só para os ver.
Ele e a (agora minha compatriota) Fabi (há c'anos!) encontraram nessa noite, no bairro alto, uma carteira com cinco contos de rei em altura de aflição.
Não queres abrir o tasco para contar essa, Zé? Não queres, ao menos, mandar-me um correio, que te empresto o tasco?
Conta-me coisas boas desse concerto, Huguito, façam-me ter mesmo pena de lá não ter ido, dêem-me vontade de mamar Jack Daniels até me correrem as lágrimas pela cara abaixo, por não ter feito naquela noite o que só poderia ter feito naquela noite.
Deixem-me voltar atrás para fazer um pirete aos profes, para roubar uma caixa registadora de um super-mercado, fugir de casa dos papás, apanhar boleia de um grunho a cheirar mal, comer bolos e rebuçados, dormir na relva até sentir o orvalho nestes ossos, beber cerveja azeda de copo de plástico, suar como não suava nessa altura, virgem ansioso e deseperado que só queria metê-lo na primeira que aparecesse, tivesse ela quinze ou cinquenta e cinco.
Deixem-me voltar atràs para esperar mais um ano, acalmar as hormonas e as frustrações, para poder ir outra vez ver Metallica e dizer ainda bem que não fui o ano passado.
Ou sou só eu a convencer-me disto?
Próxima edição: Faith No More - Pavilhão do Bessa - Porto 30 Junho 1992 (de certeza? Gonça, ajudas-me?)
18 comentários:
For what it's worth, para mim continuas um rebelde, capaz de beber Jack Daniels (bourbon!) até às lágrimas ou dormir na relva até sentires o orvalho nos ossos. Any time my friend, any time...
Só para dizer que li ou tenho lido, que gostei ou tenho gostado... mas também para fazer uma profecia fácil: este post vai ter muitos comentários. Virei cá mais tarde (com mais tempo) para um segundo comentário, e ainda mais tarde para um terceiro.
Abraços
vou ver na t-shirt ! nao me recordo. já lá vão uns anitos.
abraço!
Nao é o unico
Taxi, não sei se sou gajo para beber bourbon LOL, mas um bom uisque até vai.
Phisólofo, acredito que tenhas gostado deste. Quanto aos outros, tem andado fraco em qtdd e qldd. Aguardo com impaciência o segundo comentário.
Gnç, pensei que já não paravas cá. Como vai isso? Check it out, que tá difícil e, neste cas, até gostava mesmo de saber essa data.
Anónimo, quem é que não é o único? e a quê?
Abraços
claro que ando por cá man. sou visitante assíduo.
http://interrupto.blogspot.com/2009/07/isto-nao-e-um-post.html
http://interrupto.blogspot.com/2009/07/o-meu-amigo-mosher-desafia-me-comentar.html
http://interrupto.blogspot.com/2009/07/e-que-quando-reparou-que-o-publico-se.html
http://interrupto.blogspot.com/2009/07/e-seguir-o-regresso-ao-porto.html
Ehhhhh!!Atira-te ao mar!!
dixa-te impurrare!!!
ehhhhhh
foi do caralho. (ponto)
Não sei o que aconteceu à resposta que aqui tinha escrito ontem para o sôr Faustino, mas prontos.
Pois nem me lembrava que lá tinhas estado.
Mas nem precisas de dizer mais nada.
Já que a ana maria e os seus belos olhos (sem perjoração) te escaparam incólumes é realmente uma dupla miséria. Podes sempre ter uma crise de meia idade infeliz num concerto do axl pançudo.
E com uma puta mal lavada LOL
Antes de mais, as minhas desculpas por só agora cá vir comentar.
Desse concerto tenho apenas duas ou três imagens (a minha memória é tão selectiva que me arrisco um dia destes a ser um verdadeiro homem sem passado!):
Cena 1: O Mike Patton absolutamente endiabrado a atirar-se para o chão. Concertaço dos Faith No More (curiosamente banda que sempre gostaste e que eu comecei a deixar de gostar já em 92 ou 93).
Cena 2: Uma chuveirada de garrafas e lixo para o palco a pedido do próprio Patton.
Cena 3: A seca monumental que os Guns deram ao povo... os apupos deste e a resposta à tomatada dos Guns (vieram ao palco antes de começarem o concerto com uma caixa de tomates e atiraram-nos ao povo).
Cena 4: Concerto pobre e sem alma dos Guns com uma única excepção: Welcome to the Jungle (potentíssima!)
Cena 5: É uma não-cena; tenho ideia que a história dos cinco contos foi no primeiro concerto dos Stones e não nos Guns. :)
p.s. acho que perdi a chave do tasco! :)
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semelokertes marchimundui
Shame, a minha "carreira" passou-te completamente ao lado.
Mais shame ainda só agora me ter realizado o tal.
Como diz a música
"It's a shame
Such a shame!!"
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