segunda-feira, 13 de julho de 2015

A sacola

O mundo é um lugar bonito. Comprei esta sacola em Londres. Não sei em que ocasião, mas lembro-me que a S... não gostou dela. Sei que quase rezou para que eu a perdesse e digam lá que não acreditam em super-poderes! Hoje perdi-a (e recuperei-a) pela terceira vez. Quero dizer, no mínimo a terceira vez, posso estar a esquecer-me de uma ou de outra. E seguramente deixei-a mais vezes aqui ou ali. Mas foi a terceira vez num local público, onde pouco provavelmente a reencontraria e de onde não deveria ter saído sem olhar para as cadeiras da mesa onde estava sentado.
A nota é so para dar uma dimensão do tamanho. mas pago um copo, se quiserem!

A primeira vez foi uma noite no 138, rue Faubourg Saint-Antoine. Nessa noite estive com o Duarte e o Matteo e eles chatearam-se à brava. Barbaramente, mesmo. No início da noite tinha pendurado a sacola num cabide, deixando bem claro que alguém teria que lembrar-me que o tinha feito antes de sair. Acontece que eles chatearam-se duramente (não sei se já disse) e que eu estive entretanto a falar de tido e de nada com um grupito de pessoas que lá conheci. Até partilhei táxi com três dessas pessoas. No dia seguinte, um Domingo, quis pegar na Classic Rock que estava a ler e veio a constatação. Tinha deixado a maleta no tasco. Liguei para lá mas ainda não estavam abertos. Dei uma hora e voltei a ligar. Disseram que não sabiam. Teria que esperar pela "equipa da noite". Impaciente, peguei numa bicicleta e rumei au Faubourg Saint-Antoine. Torturava-me um papelito que lá estava dentro, um projecto de letra de canção, primeira e única que escrevi em francês, parecia-me importante não perder aquilo (obviamente a letra não tinha interesse nenhum, mas manias são manias). Chegado ao bar perguntei se tinham encontrado uma sacola. "Uma cinzenta?" Yesssss! Acho que nem precisei de dizer o que tinha dentro para provar que era minha. Voltei de metro a ler a Classic Rock que lá estava dentro (não, não esqueci a bicicleta, eram duas rodas propriedade da Mairie, alugadas a alguns cêntimos a hora).

Um belo dia, já na fase "on my own" da minha vida, acordo numa cama diferente, em casa de uma simpática moça, para os lados de Arts et Métiers. Conversamos um pouco, o Sol invadia o pequeno loft num quarto andar. Conversamos um pouco mais. Vesti-me e perguntei onde estava a minha sacola. Procurei como um desalmado. Estava a meio de um interessante conto de um livro de Luis Fernando Veríssimo e o livro tinha ficado na sacola. Mas não valia a pena revirar o apartamento. Estava na cara que o tinha deixado no restaurante onde tinha comido numa mesa de quatro pessoas com quem tinha saído. Saí com a Cécile e fomos à Montorgueil comer algo num traiteur italiano. Era Domingo no mundo, um Domingo quente numa Paris estranhamente calma. Esperei pela Segunda-feira para ligar para o restaurante, mas ninguém me atendeu. À saída do trabalho, passei no tasco, aquele restaurante de bons hamburgueres sito no 1, Place de Bastille. Que não, que não tinham nada. O empregado, um tuga, lembrava-se de mim, tentou ajudar, mas nada. Dei voltas à cabeça. Fui tomar um chá a casa da Cécile. Simpática Cécile (gostou de mim, a rapariga, que acabou mais tarde por apagar o meu número da lista dela, mas isso é outra estória). Acabei por regressar a casa. Além do livro, torturava-me outro papelito, um Cadavre Exquis que um dia tinha feito com a N..., que estaria agora irremediavelmente perdido. Em casa, atinge-me um pensamento: antes do restaurante tinha bebido duas pints no Bottleshop. Terça-feira, saído do trabalho, zarpo ao Bottleshop et voilà. Directo! Uma coisa em falta: um carregador de bateria portátil que me tinham oferto quando fiz uma apresentação para uma associação a que pertenço. Acabei o conto (uma visita frustrada da morte a uma família brasileira) no metro para casa). se não estou em erro, fotografei o Cadáver Esquisito nessa mesma noite.

Hoje saí com a Marise, o projecto era irmos ver o Velasquez, cuja espera de uma hora nos fez embarcar para um copo em Quai de la Gare. Há pouco pensei em pegar nos meus auscultadores para ir ouvir uma antiga guitarrada que gravei. E... espera! Onde é que deixei a sacola? Contas feitas, tinha deixado bem aqui ao lado. O fim da estória é sabido: o empregado comunicou que tive sorte, que eles viram antes e blá blá blá. Para mim foi a terceira vez. Fiz o inventário de cada compartimento enquanto vinha para casa:
  • O livro dos pensamentos - check
  • Um pacote de rebuçados - ok
  • Algumas esferográficas - ok
  • 50 € em cheques-prenda (nenhuma relação com a nota na fotografia acima, a não ser o valor) - surprise!
  • Mais uma esferográfica - fixe
  • Os fónes! (elemento que me fez sentir falta da sacola) - check
  • Alguns lenços de papel - porque não?
  • Uma outra esferográfica - (!!!)
  • Dois preservativos - A sério!! Nem sequer imaginava, nenhuma ideia...
  • O tal do Cadáver Esquisito - Esquisito, não?
E pronto... à terceira (ainda) não foi de vez!

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