“Nunca pensa nisso enquanto se barbeia?”
O político responde usando algo que aqui se chama a “Langue de bois” e que em Português se poderia chamar “fugir à questão”, “dar uma resposta diplomática e politicamente correcta”, “falar muito sem dizer nada”.
Um exemplo:
Jornalista: “Mas diga-nos sinceramente. Ser Presidente da República é um cargo que ambiciona? Nunca pensa nisso enquanto faz a barba?”
Político: “Presidente da República é o cargo mais honroso desta nação e, numa situação futura em que sentisse que a minha disponibilidade era importante e o povo e o partido mo pedissem não posso dizer que o recusaria. Mas actualmente o meu objectivo é apoiar incondicionalmente o actual candidato de modo a termos aquele que eu entendo estar preparado para aplicar as políticas de que o país precisa”
(Nota do tradutor: aqui, os presidentes podem, de facto, aplicar políticas)
« Est-ce que vous y pensez en vous rasant? »
Curiosa expressão. Acho que a única coisa em que penso enquanto me barbeio é: “Como é que vou acabar isto sem deixar pelos pendurados e sem tirar um bife com a lâmina?”.
Ou melhor, pensava. Porque, desde o Natal, uso uma máquina de barbear eléctrica, vencendo uma resistência de alguns anos. E não por falta de exemplos: o pai deste vosso escriba era um feroz defensor da máquina. Até as lâminas se gastarem (há uns anos) e ele ainda não ter tido tempo para as mudar e desde então usar de novo a lâmina.
(Nota do editor: por se vê que a carga genética é verdadeiramente um fardo difícil de largar)
Ora, tendo eu a barba mais rija que a pele, não queria arriscar um aparelhómetro que me ia irritar a pele (e a paciência). Mas lá mo ofereceram no Natal e aí vai disto: afinal funciona, habituei-me rápido e a pele não ficou toda vermelha e cheia de borbulhas (como me tinha acontecido numa simples experiência passada. Agora até posso fazer a barba de tarde ou antes de me deitar. Antigamente, tinha que ser a primeira coisa que fazia, a seguir a levantar a cabeça da almofada e passar água quente na cara. E imediatamente antes de me meter no chuveiro até o sangue de variados cortes secar.
Se quiser mesmo abusar, até a posso fazer numa casa de banho pública. E acabou-se a compra de Gel (um de tamanho normal para economizar com volume, outro de 75 ml para poder levar no avião) e a recarga de lâminas a preços de escanhoar a carteira. Sim, tinham que ser lâminas triplas, a bic não era solução para mim.
Problema: nunca fico com a pele de bébé que tinha depois de me barbear e, pelas duas da tarde, já parece que tenho a barba por fazer. Mas faço-a muito mais rápido.
O que quer dizer que tenho menos tempo para pensar nas ambições políticas, mas não tenho que me distrair a pensar em cortes.
Adenda: só havia um dia em que fazia a barba na boa: a segunda-feira, depois de me ter desleixado todo o fim-de-semana, como gosto de me desleixar. Agora tornou-se o dia mais difícil, mas arranjei uma solução: juntar o melhor de dois mundos. Ontem, voltei temporariamente à velha Gillette e ao velho Gel. E agora, se me dão licença, vou jogar squash, acelerar de carro, comer a Giselle Bündchen e por aí fora.
5 comentários:
Cá p'ra mim vais é jogar solitário, andar de táxi e levar algum mimo, se tiveres sorte! E olha que a barba tem que estar bem feita! :b
este post é claramente a antecâmara da depilação a cera
Este post despertou claramente algo no meu amigo Faustino...
eu tenho uma frase que uso desde os tempos da 1ª faculdade:
-em que pensas enquanto te barbeias?
-para a semana vou ter que a fazer novamente...
(a verdade é que neste momento já levo umas 3 semanas sem sequer pensar nisso!)
Ora lá está. Nada melhor do que uma máquina. Barbear rápido e sem pele irritada. Concordo.
Saudações Tasqueiras.
Enviar um comentário